14.12.09

Onipotência

O ponto central aqui [no caso das enchentes em São Paulo] é a contradição entre a ideia de um bem absoluto e o mal observável: se Deus é bom e tudo pode, não deveria haver mal sobre a Terra; havendo, ou Deus não quer acabar com o mal -e não é benevolente-, ou não pode fazê-lo -e não é onipotente.

Hélio Schwartsman
em Cotidiano, Folha de SP, 9.dez.2009

Fazendo dinheiro

Ele também ouviu do tio [Márcio Thomaz Bastos], algumas vezes, uma resposta típica a clientes que falaram coisas como "Não sei como lhe agradecer". Nessas ocasiões, Thomaz Bastos responde, com um sorriso conquistador: "Depois que os fenícios inventaram a moeda, esse problema ficou simples de resolver".

Luiz Maklouf Carvalho
na revista Piauí, dez.2009

7.12.09

Mão no bolso dos outros

Numa democracia consolidada, o cidadão enxerga o espaço público como de ninguém, porque de todos. Numa democracia não consolidada, o espaço público é de ninguém sem ser de todos. Portanto, ele pode ser meu no que diz respeito aos meus interesses particulares. E isso é corrupção.

Sandra Jovchelovitch
Em entrevista à Folha, em 7.dez.2009

15.11.09

Além da comoção

O herói implausível de "Lula, o Filho do Brasil" encanta, comove, e só. Torce-se por ele, mais nada. Saudades de Erin Brockovitch (Julia Roberts) e de George Patton (George C. Scott), filmes que enriquecem quem os vê.

Elio Gaspari
Brasil, Folha de S.Paulo, em 15.nov.2009

9.11.09

Mente e corpo

Para mim, hoje, existe um "eu" real, que não é mais um quarto ou mesmo a metade de um homem, e um "eu" virtual, que conserva uma ideia do todo. O "eu" virtual prepara um projeto de livro, começa a organizá-lo em capítulos e diz ao "eu" real: "Agora é a sua vez de continuar". E o "eu" real, que não consegue mais, diz ao "eu" virtual: "O problema é seu. Só você vê a totalidade". Minha vida agora se passa em meio a esse diálogo muito estranho.

Claude Lévi-Strauss
em seu aniversário de 90 anos, em 1998

Teria...

O futuro do pretérito é a vaselina do jornalismo.

Pasquale Cipro Neto
palestra na Folha, em jun.2009

22.10.09

Tudo igual

Por acaso alguém acha que o mundo já foi melhor? Há 500 anos existiam "valores" mais válidos? Respondo: não, o mundo nunca foi bom.

Luiz Felipe Pondé
Ilustrada, Folha de SP, em 19.out.2009

18.10.09

Bandidos e mocinhos

(...) a política defensiva de Israel, hoje, continua a provocar tanta fúria na consciência piedosa do mundo. Como é possível que os judeus, nossos eternos cachorrinhos de estimação, sejam também lobos contra os seus inimigos? Gostamos das vítimas enquanto elas são vítimas. [Em "Bastardos Inglórios"] Tarantino explode essa covardia suave.

João Pereira Coutinho
Ilustrada, Folha de SP, em 13.out.2009

Deus, Caim e Abel

Saramago parece não ter percebido ainda que não é o "fator Deus" que leva os homens a serem a besta fera que são, mas sim o "fator Homem" que gera a bestialidade histórica de que ele tanto reclama.

Luiz Felipe Pondé
Ilustrada, Folha de SP, em 17.out.2009

15.10.09

Bolsa Família etc.

O povo "não quer esmola", como disse Lula quando ainda não se apresentava como o sucessor de Getúlio Vargas, mas as elites políticas confluem em torno da proteção de seu privilégio de dar esmola.

Demétrio Magnoli
Opinião, O Estado de S. Paulo, em 15.out.09

3.10.09

Cuba

[O embargo americano] não afeta os governantes, que continuam importando os produtos que desejam. Tampouco se plantou na ilha uma semente de insatisfação capaz de desestabilizar o governo. Acima de tudo, o embargo tem sido o maior pretexto do governo cubano para justificar o descalabro econômico no país.

Yoani Sánchez
em entrevista à revista Veja, em 3.out.09

7.9.09

esmagamento

... como se a vida fosse possível sem sombras, sob o calor sufocante da luz.

Luiz Felipe Pondé
Ilustrada, Folha de SP, em 7.set.09

31.8.09

profissão de fé

O habitat natural da alma é viver entre Deus e o Diabo. Como Deus é piedoso, dele aprendo a humildade, como o Diabo é infeliz, dele aprendo a vaidade. Ambos são improváveis, por isso merecem nossa fé.

Luiz Felipe Pondé
na Ilustrada, Folha de SP, em 31.ago.09

25.8.09

Vida

Uma vez que a nossa ciência busca explicar o que é a vida, ela mesma anseia por tomar consciência para ensinar os outros a viver.

Personagem de "O Sonho de um Homem Ridículo", de Fiódor Dostoiévski

27.7.09

com atraso

(...) mas o eflúvio da manhã quem é que o pediu ao crepúsculo da tarde?

Brás Cubas
em "Memórias Póstumas de Brás Cubas", de Machado de Assis

monstruosidade nazista

Perceber a humanidade do nazista não é desculpá-lo ou justificá-lo moralmente, mas sim iluminar nosso parentesco com ele, é denunciar um cotidiano de pequenos interesses e medos que sufocam o mal-estar moral numa praga de fungos.

Luiz Felipe Pondé
Ilustrada, Folha de SP, em 27.jul.09

20.7.09

Sorrir ou não

A princípio, o contentamento, sendo interior, era por assim dizer o mesmo sorriso, mas abotoado; andando o tempo, desabotoou-se em flor, e apareceu aos olhos do próximo. Simples questão de botânica.

Brás Cubas
em "Memórias Póstumas de Brás Cubas", de Machado de Assis

11.7.09

...

Um artista nunca é pobre.

Babette,
chef do Café Anglais, no filme "A Festa de Babette" (1987), de Gabriel Axel

Do além

Daqui inferi eu que a vida é o mais engenhoso dos fenômenos, porque só aguça a fome, com o fim de deparar a ocasião de comer, e não inventou os calos, senão porque eles aperfeiçoam a felicidade terrestre.

Brás Cubas,
em “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, Machado de Assis

De nada mais vale

O olhar da opinião, esse olhar agudo e judicial, perde a virtude, logo que pisamos o território da morte; não digo que ele se não estenda para cá, e nos não examine e julgue; mas a nós é que não se nos dá o exame nem do julgamento. Senhores vivos, não há nada tão incomensurável como o desdém dos finados.

Brás Cubas
em “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, Machado de Assis

6.7.09

Subumano

— Você tem família?
— Família? Eu fumo crack há 15 anos. Então, eu estou morto há 15 anos.


usuário de crack em entrevista a Caco Barcellos
no programa Profissão Repórter, de 3.jul.2009

18.6.09

Gastronomia

O antropólogo Lévi-Strauss, "o Ovídio da moderna antropologia", sempre se manteve aberto ao tema da metamorfose. Para ele, o artesanato fundador é a cozinha. O cru é o mundo da natureza, tal como encontrada pelos seres humanos; o ato de cozinhar gera o mundo da cultura, a natureza metamorfoseada.

Nina Horta
coluna na Ilustrada, Folha de SP, em 18.jun.2009

15.6.09

Mulheres

Mulheres sempre foram vistas como especialistas no amor, talvez pela imagem ancestral de que nunca foram seres iludidos pela razão, mas sempre torturadas pelo desejo.

Luiz Felipe Pondé
na Ilustrada, Folha de SP, em 15.jun.09

Eixo

Amar é ficar fora de si ou ficar bem consigo mesmo porque não ama mais. Não existe gente bem resolvida, só gente indiferente.

Luiz Felipe Pondé
na Ilustrada, Folha de SP, em 15.jun.09

8.6.09

Re-reeleição

Qualquer pessoa que seja a favor de um terceiro mandato do Lula o é ou por má-fé (porque participa da "máfia democrática" que manda no quintal), ou por ser um idiota.

Luiz Felipe Pondé
em sua coluna na Ilustrada, Folha de SP, em 8.jun.09

27.5.09

Na real

Quando você abandona os delírios criativos, as fantasmagorias da imaginação, a realidade fica insuportável.

Rosa Montero
escritora e jornalista espanhola, em "A Louca da Casa"

Medo de escuro

Sempre achei que a coragem física está ligada a uma total falta de imaginação, uma incapacidade para representar mentalmente o perigo e, portanto, que quanto mais fantasioso você for mais medo sentirá.

Rosa Montero
escritora e jornalista espanhola, em "A Louca da Casa"

Mais escuridão...

A vida é um mistério descomunal do qual só arranhamos a casquinha. A pequena luz dos nossos conhecimentos é rodeada por um tumulto de agitadas trevas.

Rosa Montero
escritora e jornalista espanhola, em "A Louca da Casa"

Palavras

As palavras são como peixes abissais que só nos mostram um brilho de escamas em meio às águas pretas. Se elas se soltarem do anzol, o mais provável é que você não consiga pescá-las de novo.

Rosa Montero
escritora e jornalista espanhola, em "A Louca da Casa"

Gastronomia

A comida não tem nenhuma tarefa moral a executar na sociedade.

Carlos Alberto Dória
em palestra na Folha, em out.2008

Criatividade

O cérebro não colhe ideias no canteiro do ócio. É sobretudo pela interação com o material, pelo trabalho, pelo esforço e e, em última instância, pelo fracasso, que nós nutrimos nosso banco de ideias.

Vik Muniz
escrito em exposição no Masp, maio.2009

25.5.09

Notícia

É comum a observação segundo a qual a imprensa gosta de más notícias. De fato, pois a más notícias, por piores que sejam, quase sempre são verdadeiras. As boas, sobretudo quando saem do governo ou de suas estatais, vêm contaminadas por empulhações.

Elio Gaspari
na Folha de SP, em 24.mai.2009

Por aqui

A vida não passa disso, de um demorado adeus.

Fernanda Montenegro
em entrevista para a Bravo! de maio.2009

8.5.09

Pessimismo necessário 2

Nada nos deveria ser inesperado. Nossas mentes sempre deveriam tentar antecipar todos os problemas e deveríamos considerar não aquilo que deveria acontecer, mas sim aquilo que pode acontecer. O que é o homem? Um vaso que ao menor tremor, ao menor impacto, pode quebrar.

Sêneca
citado pelo filósofo Alain de Botton em artigo no "Financial Times"

Pessimismo necessário

Aquilo que mais nos fere é o que não esperamos. E porque precisamos esperar por qualquer coisa, é necessário, argumenta Sêneca, que tenhamos em mente o tempo todo a possibilidade dos mais devastadores eventos.

Alain de Botton
filósofo suíço, em artigo especial para o "Financial Times", publicado na Folha em 3.mai.09

26.2.09

Concessões cotidianas

O heroísmo é uma exceção humana. Uma pessoa que leva uma vida normal, que é formada por vinte mil pequenas concessões todos os dias, não está preparada para, de repente, não fazer mais concessão nenhuma, e muito menos para suportar a tortura.

Murray Ringold
personagem de "Casei com um Comunista", de Philip Roth

3.2.09

Sem lógica

O amor não é uma coisa lógica. A vaidade não é uma coisa lógica. Cada um de nós, neste mundo, tem sua própria vaidade e, portanto, sua cegueira feita sob medida.

Murray Ringold citando sua mulher, Doris,
ambos personagens de "Casei com um Comunista", de Philip Roth